O que causa o vício? Quais as verdadeiras causas do vício em drogas? Existe algo em comum entre este e outros tipos de vícios? Qual a porta-de-entrada para o vício?

canabinfo
Desde os primórdios da chamada Guerra às Drogas, a visão do senso-comum sobre o vício tem tido um enredo simplista: alguém de “mente fraca” é influenciado por amigos, começa a fazer uso de drogas (pra parecer legal entre seus amigos no início) e acaba entrando em um labirinto sem fim que sempre leva para a falência financeira (sua e dos que estão a sua volta) até a inevitável “perda total” do seu corpo em uma overdose ou assassinado por motivo de dívida com o traficante (o que vier primeiro).
No entanto, várias pesquisas já demonstraram que esse “caminho sem volta” quase nunca acontece, isto é, a maioria absoluta dos chamados “usuários de drogas” são na verdade sujeitos que mantém vínculos de trabalho e de família sem maiores problemas dos que qualquer pessoas que não usem drogas também possuem. O que configura um uso não abusivo, ou pelo menos não destrutivo das substâncias chamadas drogas, pela maior parte do seu mercado consumidor.

Basta pensar que se fosse verdade que a falência financeira, o surto psicótico ou a desmotivação para o trabalho atingissem a todos (ou quase todos ou usuários de drogas, como dizem as campanhas proibicionistas) De que modo as pessoas fracassadas que roubam trocados e “pequenos objetos” na sua própria casa poderiam estar sustentando tamanho macro mercado global como o das drogas?
Ao que tudo indica, a maioria dos usuários, compradores de drogas, são na verdade pessoas que trabalham e ganham dinheiro regularmente (pagam suas contas, fazem supermercado) vivem normalmente (passeam nas férias, andam de carro, etc…) e dedicam, quando querem, parte do seu dinheiro para consumir suas drogas favoritas, assim como um capuccino, um chocolate, mariola, cigarro, ingressos para espetáculos de todos os tipos. Esta é uma pílula difícil de engolir para os proibicionistas, mas o varejo das drogas é baseado em usuários que compram por muitos anos e sempre tem dinheiro pra continuar comprando e que quase nunca farão uso problemático das susbstâncias ou precisarão de “clinicas” para serem “tratados”.

Além disso, o que chamamos de vício precisa ser avaliado em cada contexto, pois como bem sabemos nos lares brasileiros dificilmente falta café – um estupefaciante considerado inadequado para crianças por exemplo – e nós (brasileiros) consumimos uma quantidade de açúcar e de sal anual considerada absurda se comparada com a média do consumo em outros países. Como já se sabe o consumo de açúcar e sal em excesso causa diversos problemas de saúde que frequentemente levam mais e mais pessoas ao sistema único de saúde, como pressão alta, diabetes e outras doenças, causando gastos que poderiam ser evitados com uma boa educação nutricional desde o berço. Então o desafio está lançado, tente fazer o teste de passar uma semana sem consumir açúcar para avaliar se você é viciado ou não nessa substância.
O experimento do “Rat Park” explicado no vídeo abaixo chegou a conclusões reveladoras sobre o desenvolvimento do vício ou do comportamento vicioso em mamíferos.
A principal conclusão do pesquisador Bruce Alexander e sua equipe no estudo feito em 1979, é que o vício está muito mais relacionado ao contexto social do viciado do que com a química da droga em si. Ou seja, por mais forte que seja a adicção química a certa substância o que determina se o indivíduo vai “se afundar” na droga é o meio no qual ele vive. Se suas condições são favoráveis a que ele se sinta isolado do mundo, das atividades que ele deveria ter acesso mas não pode (centro poliesportivo, boa alimentação, bom emprego, entretenimento … ) dos familiares e dos amigos por preconceitos ou outros tipos de problemas. São fatores que de fato empurram a pessoa para o vício, isso porque o ser humano é um ser que necessita fazer conexões, criar vínculos, relacionamentos para se sentir completo. Quando isso não acontece com naturalidade, a droga aparece como saída fácil para uma conexão duradoura entre o viciado e o ritual de usar determinada substância.
Isso pode ser facilmente observado se compararmos o vício em drogas com o vício em jogo por exemplo, apostas, baralho, qualquer coisa no estilo já serve para termos uma quantidade assustadoras de pessoas que passam pelo mesmo problema descrito no protocolo: faz uso uma vez influenciado por outras pessoas, depois não consegue mais imaginar 24h do seu dia sem a presença de tal atividade, ainda que isso lhe custe seu emprego, economias, relacionamentos afetivos e etc. E no caso do vício em jogos, (ou apostar em jogos) como você sabe não tem nenhuma substância química alheia ao nosso corpo envolvida nesta atividade, apenas as conexões que o cérebro faz vinculadas a isso já são o suficiente para causar o temido vício. Apenas teremos que lembrar, mais uma vez, que em países como o Uruguay onde o jogo é legalizado (gera renda, empregos, arrecadação de impostos etc…) a absoluta maioria dos jogadores não fazem uso problemático dos cassinos.

O perigo de um estudo como o “Rat Park Experiment” é que os governos teriam de rever toda sua política de combate às drogas baseada simplesmente em encarcerar usuários e pequenos varejistas revendedores de drogas. Política essa que já se demonstrou ineficaz repetidamente já que por exemplo os EUA que contam com a maior população carcerária do mundo, sendo que mais da metade dos presos foram encarcerados por “infrações” relacionadas à drogas. Continua sendo um dos maiores consumidores de drogas, e com maior incidência de uso problemático. Enquanto que países da União Européia como Reino Unido que adotam uma política mais tolerante a esse tipo de infração não apresentam taxas alarmantes de uso de drogas na sua população nem um sistema carcerário inchado.


Uma pesquisa de 1975, demonstrou que as taxas de uso de heroína eram 20 vezes maiores entre os soldados que ainda estavam no campo de batalha no Vietnã do que entre os soldados que já haviam sido enviados para suas casas.
Resolver o problema das drogas com cadeia é uma falsa alternativa que vem falhando há décadas, e todos sabemos disso só por olhar ao nosso redor, mais ainda se levarmos a sério um experimento como o do Rat Park que só serve para demonstrar que um usuário de drogas não tem o porquê de se “curar” ou trocar de hábitos ao ser encarcerado em condições sub-humanas, ou depois de liberto com a marca de “ex-presidiário” estampada no seu currículo, pelo contrário.
A solução já é conhecida de todos: criar um ambiente mais humano , mais motivador para a população, principalmente a população desfavorecida das periferias que por si só não poderia prover atividades alternativas ao consumo de drogas como prática de esportes, cursos educacionais, acesso a saúde e alimentação de qualidade. Com certeza, o dinheiro investido em novas armas, tanques e caveirões seria melhor aproveitado se fosse direcionado à educação e prevenção do uso de drogas e não na simples repressão cega em sua forma mais bruta.

A Luta que, as pessoas que aos poucos estão despertando para essa realidade, estão enfrentando tem sido o desafio de mostrar para todo mundo os efeitos nocivos da proibição e não das drogas, seja você também um Ativista, levando esta reflexão ao máximo de pessoas que puder, Compartilhe com suas Redes de amigos e nos seus Grupos. Faça sua parte pela PAZ
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